quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Médico e a Guerra


Li ontem num dos jornais diários o desaparecimento desse grande vulto da Ciência e da Medicina, que foi o Prof. Doutor Nuno Grande.

Recordei uma entrevista dada pelo mesmo a um órgão da imprensa, há já alguns anos, enquadrada numa retrospectiva daquilo que foi a guerra colonial. Já não recordava qual a revista, creio que seria um suplemento do JN, se estiver errado, as minhas desculpas ao autor. Lembro-me de na ocasião a ter guardado, porque era um relato de alguém que estando na rectaguarda, tinha a noção de como era dura a guerra que se travava nas matas do Maiombe, pois estava na antecâmara da morte, o Hospital Militar de Luanda, para onde iam os casos mais problemáticos.

Não encontrei a revista, mas encontrei o artigo na NET. Não é o documento original, no entanto deixo aqui o essencial desse artigo, porque estou certo, dirá muito a todos aqueles que viveram e lutaram no norte de Cabinda. Nesse imenso mar verde, como já alguém lhe chamou. O Maiombe.


GUERRA ESQUECIDA
Por




"Em Luanda, em 74, os combates eram uma coisa longínqua, que a cosmopolita vida na capital fazia ainda mais remota. "À medida que as pessoas se integravam, a ideia da guerra era uma ideia longínqua", recorda o pró-reitor da Universidade do Porto, professor Nuno Grande, na altura vice-reitor da Universidade de Luanda.

Como as pessoas estavam longe dos focos de guerra, adormeciam um pouco em relação à situação em que se vivia", conta. O professor recorda no entanto que a capital angolana por pouco não foi abalada por uma operação da guerrilha. "No Natal de 73, foi desactivada uma operação de guerrilha urbana que estava a ser preparada por gente da FNLA, dentro da cidade de Luanda. As pessoas não tiveram muita consciência disso, mas eu, porque estava ligado à Universidade, tive conhecimento pelos canais oficiais que uma das acções seria contra o próprio hospital universitário".

A preparação dessa acção foi contudo descoberta. No geral, o dispositivo militar da administração colonial era na verdade muito eficaz, reconhecem hoje alguns dos que naquela altura estavam do outro lado. O Exército, as tropas especiais africanas treinadas pela PIDE/DGS, os Flechas, a polícia política, forças militarizadas e as milícias da Organização Popular de Vigilância e Defesa Civil de Angola estabeleciam no terreno um controlo a que dificilmente escapavam os movimentos da guerrilha.

Estes faziam contudo incursões através das fronteiras de Brazzaville e da Zâmbia, e havia zonas perfeitamente demarcadas onde já se sabia que tudo podia acontecer. Aí por volta de 1965, conta Nuno Grande, nos Dembos e no Moxico a guerrilha fez muita mossa. "Cabinda e o Leste eram sítios de onde nós, os médicos do Hospital Militar, sabíamos que os feridos vinham sempre muito maltratados".

Em Cabinda, onde foi enviado para investigar um surto de febre amarela, "havia muitos focos, com grande número de mortos. Lembro-me que, numa distância de 200 quilómetros, os comandantes das companhias que estavam ali aquarteladas diziam-me: "Temos um morto por quilómetro".

"Bem sei que estavam ali dois anos, mas a guerrilha era muito mais efectiva em Cabinda, porque as fronteiras com o Congo-Brazzaville eram muito permeáveis. Eles faziam as operações, deixavam as coisas armadilhadas, e iam embora, nem sequer assistiam aos efeitos. E dava-se conta, no Hospital Militar de Luanda, quando alguém vinha de Cabinda, pelos maus tratos...", conta.        
  Por cá, era ler os comunicados militares que diariamente o Ministério da Guerra mandava publicar nos jornais. "O Serviço de Informações Públicas das Forças Armadas comunica que morreram em combate, na Província de Angola, os seguintes militares:" e seguiam-se os nomes de mais uns tantos que, naquele ano, entre a noite de Natal e a de fim de ano, não iriam aparecer na TV, a desejar festas felizes.

Nota: O sublinhado é nosso
Fonte : NET

Breve Biografia


O Professor Doutor Nuno Grande formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, com a apresentação de uma tese de 19 valores, tendo, na altura, sido convidado para ser assistente da cadeira de Anatomia ao lado do Professor Hernâni Monteiro. Doutorou-se em 1965, com a classificação de 19 valores.

Seguidamente foi mobilizado pelo Exército e colocado no Hospital Militar de Luanda.

Foi 1º Assistente da Universidade de Luanda e foi Encarregado do Centro de Estudos de Medicina Experimental do Instituto de Investigação Científica de Angola. Na Universidade de Luanda, regeu as cadeiras de Anatomia Topográfica e de Histologia, orientando, também, Anatomia Descritiva e Biologia. Em 1970, pela extensão a Angola da jurisdição da Ordem dos Médicos, Nuno Grande, apesar de estar a viver na então colónia há menos de 5 anos, foi eleito pelos colegas Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Médicos. Exerceu igualmente as funções de Director da Faculdade de Medicina e de Vice-Reitor da Universidade de Luanda.

Em 1974, regressou de Angola, tendo, em 1975, juntamente com personalidade médicas como Corino de Andrade, fundado o actual Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto.[1]Nesta escola médica, em que foi regente da cadeira de Anatomia Sistemática realizou trabalhos inéditos de repercussão internacional.

Fonte : Wikipédia

1 comentário:

Correia disse...

Esquecida? Olhe que não Dr.