terça-feira, 14 de outubro de 2008

Evacuação de heli

Introduzido o ferido no heli, este levantou voo, e não consegui encontrar uma veia, em condições, para lhe colocar um soro, pois o mesmo já tinha sido atingido há 6 (seis) horas atras, e estava em situação critica.
Solicitei ao piloto, um furriel miliciano, que chegasse a Cabinda o mais rapido possivel, tendo o mesmo, cortado caminho, para atingir a zona maritima, o mais cedo possivel, pois ai a pressão seria mais baixa e talvez eu conseguisse o meu intuito.
Então já em pleno oceano, fui informado que melhor não podia ser feito, pois estavamos a voar a um metro acima do nivel do mar, o que não era permitido, e se tivessemos o azar de vir uma onda maior do que aquelas, e se não houvesse hipotese de a evitar, iamos todos para os anjinhos (não foi este o termo, mas compreende-se qual tenha sido....).
Continuou a não ser possivel, colocar o soro, e a situação complicou-se muito mais, quando o heli teve de subir, e depois aterrar, para chegarmos ao Hospital de Cabinda, mas felizmente, o ferido aguentou até entrar na sala de operações, onde de imediato foi operado, tendo-lhe sido amputada uma perna, a cerca de dez centimetros, abaixo do joelho, e colocado um testiculo de plastico, dado que a mina que ele accionou, rebentou-lhe com uma perna, atingiu-lhe os testiculos, rasgou-lhe parte do peito e fez-lhe um buraco, na parte entre o pescoço e o maxilar inferior.
Depois de ter ajudado o Dr.Cunha Leal (ao que julgo saber, actual cirurgião chefe do Instituto de Oncologia de Coimbra) e o 1º.Sargento Pinto (já meu conhecido de Viseu, da Casa de Reclusão, onde estivemos colocados, e que vim a reencontrar em Cabinda...), sai do hospital e sou de imediato confrontado com o Chefe do Estado Maior, do Enclave de Cabinda, Major Pimentel, por causa de estar com a camisa nº2., com as calças nº.3 e de sapatilhas ( eu andava a jogar futebol, quando tive de sair para evacuar o ferido e nunca mais me lembrei desse facto, nem ninguem me chamou a atenção...).
Escusado será dizer que me passei completamente, pois ele até nem se preocupou com a enorme quantidade de sangue que esse mesmo fardamento tinha!
E disse-lhe tudo e mais alguma coisa, tendo-o "filado", valendo-me a pronta intervenção do Ten.Benjamim, da CCS e de outros militares que se encontravam presentes, incluindo ainda, um civil, meu amigo, que se veio inteirar da situação, pois "eu ia estragar a minha vida, com quem não o merecia".
Eis senão quando, oiço uma voz de trovão: Furriiiiiiiiiiiiel qual é o problema? Gelei e pensei para comigo: "só me faltava este agora".
Era o nosso anterior Comandante Camilo José Delgado (pois nesta altura, já estava a comandar o BCaç.11), que disse alto e bom som ( aquilo que nunca mais me esqueceu e que nunca esperava ouvir dum Comandante), para o Brigadeiro Themudo Barata, com quem estava:" é o furriel com mais pinta do meu batalhão; nunca lhos vi, mas devem ser negros e tem-nos no sitio".
Se eu estava mal, fiquei bem pior !
Quiz saber tudo o que se tinha passado, "correu" nitidamente com o Major e isto tudo no maior, e confragedor, silencio do Brigadeiro!
De seguida, tive de entrar no carro do Brigadeiro ( ao que eu me opus pois iria sujar de sangue os estofos de lã, de carneiro, castanhos escurissimos, ao que ele me respondeu, "que alguém os limparia"), que me levou á Base Aerea, inteirando-se no percurso daquilo que eu pretendia fazer, que era levantar voo e regressar ao Buco Zau, para ajudar a evacuar os meus feridos, que estavam a ser transportados, para o local onde se tinha iniciado a patrulha.
Deixou-me na base, mas incumbiu-me de, fosse a que horas fosse, que eu chegasse a Cabinda, ir-lhe dar conhecimento de todas as ocorrencias.
Infelizmente, não houve hipotese de levantar voo, pois às 18 horas, já era quase noite, e não podiam haver voos nocturnos.
Trouxeram-me novamente para a cidade, onde na residencial, o Luis me deu dois rissois de camarão, duas imperiais, e um maço de cigarros Bel Mar, pois eu não tinha nem um tostão no bolso, e apenas tinha comido dois ovos estrelados no bar da 2ª.Companhia!
Mas com este pormenor o Major não se preocupou....
Pouco tempo depois, foram-me buscar á residencial, e levado para o Comando, onde o Brigadeiro me informou da situação, reafirmou a ordem dada anteriormente, e me deu transporte, para eu ir até Landana, buscar os meus homens feridos....
Isto já vai imensamente extenso, e terá de continuar noutra oportunidade.

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