domingo, 12 de outubro de 2008

A água, o treino para a falta dela e o cantil

Desde 1974, quando cheguei a Lisboa naquele avião que nos trouxe de Luanda, sinto em mim uma série de coisas diferentes. Coisas em que antes nunca teria pensado, mas que desde então me dominam. A água, coisa mais simples da vida, é uma delas.
Porque em Lamego fui doentiamente treinado para a falta de água. Ali, a lei era muito simples: um cantil por dia e nem mais uma gota. Em dias de grande intensidade de treino, esse cantil tinha que dar também para... fazer a barba, imaginem. E se ela tinha que ficar bem feita!!! Vocês lembram-se dessas paranóias dos tipos da tropa, com certeza...
Pois bem. A preparação para a falta de água foi tão séria e tão marcante que ainda hoje (isto é mesmo a sério), quando alguém bebe por uma garrafa de água e a vai despejando garganta abaixo sem regra, fico muito incomodado. E, por instinto, penso logo em chamar a atenção, porque... cuidado, daqui a bocado pode faltar e depois não tens nem uma gota...
Vejam bem a paranóia. Por acaso, não me lembro de alguma vez me ter faltado a água em zona de guerra. O treino foi mais duro do que a realidade. Minto. Uma vez faltou-nos e bem. Foi nas vésperas do Natal, creio que de 1973: as viaturas e todo o apoio caíram ao rio para lá do Penkacta. E foi um problema dos diabos. Mas isso foi só uma vez... Mas o meu trauma manifesta-se a toda a hora.
Nota: incomoda-me sobretudo se vir beber desalmadamente mas de garrafa. Se for de copo, nem por isso. Estou farto de pensar no porquê desta diferença e só encontro uma explicação: provavelmente é porque a garrafa é mais parecida com o cantil, sei lá.
Isto são tudo problemas para os psiquiatras...

1 comentário:

João Silva disse...

Então por causa do cabelo e da barba, era uma coisa de doidos.
Um dia em Tavira tive que cortar o cabelo três vezes.

Sobre a àgua... em Tavira também fazíamos uma "dietazita" dela, embora não com tanto rigor.